Publicado originalmente em NBS Plus


A emissora do Catar Al Jazeera virou destaque na imprensa internacional após sofrer uma série de ameaças de países muçulmanos pedindo o seu fechamento sob o pretexto de “apologia ao terrorismo”.

O problema: a emissora não apoia o terrorismo e sim, a famigerada democracia. Isso incomoda os líderes do Oriente Médio e muito. Tanto que após anos de sanções ao Catar (por outros motivos), o primeiro pedido desses países foi que a Al Jazeeraencerrasse suas atividades – algo negado – então, começaram as ameças ao canal.

A rede de televisão catarense é a “Globo” do Oriente Médio, sendo líder de audiência nos principais horários e com ampla cobertura no mundo árabe, mas nem isso adiantou. Israel ordenou nesta segunda (07), a suspensão do canal na TV paga, além do fechamento da sucursal em Jerusalém. Antes disso, países como Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito já haviam enxotado o veículo.

Ênfase ainda para Israel. O primeiro-ministro Benjamim Netanyahu reiterou em um discurso que caso não seja possível fechar a Al Jazeera por métodos legais, ele irá aprovar leis que tornem essa atitude então legal. O premier até há pouco tempo acumulava o cargo também de Ministro das Comunicações e ainda ocupa a pasta de Relações Exteriores. Benjamim também é investigado por corrupção.

A atitude autocrática dos países do Oriente Médio mostra que democracia e liberdade não são seus pontos positivos. Calar seus antagônicos virou não só uma necessidade, como também prioridade. Ter um veículo que crítica e questiona líderes internacionais como aconteceu com Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff no programa Up Front é inaceitável na visão deles, ou mesmo que ressalte a situação dos países em conflito daquela região como a AJ+ fez no especial Syrian Refugees Explain Why They Fled Syria.

Como era de se esperar, a Al Jazeera tem adotado uma linha editorial mais áspera com Israel como ficou visível na matéria What is it like being a journalist in Israel? e no especial da AJ+ Why Is Israel Restricting Access To Al-Aqsa?.

Mesmo diante de um mundo conectado, parecemos mais desconectados do que nunca. São tantas “informações” que as realmente relevantes são mais uma notícia. O cerco se fechando contra esse veículo revela a democracia em crise não só naquela região, mas como em todo o globo. De Caracas à Doha, a cessão da liberdade de imprensa é o primeiro termômetro de um governo em crise e de uma população em risco.

Deixo aqui também um vídeo produzido pela emissora do Catar sobre a tentativa de silenciar o veículo (em inglês).